quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Quando nascer passa de Acontecimento a Evento - Sobre as festas na maternidade

Aproveitando a deixa da Gabi Sallit em seu último post no blog Dadadá, que achei um dos melhores posts que li ultimamente, porque nos faz aceitar que julgar é normal e quem sabe até saudável, começo a patir de agora a julgar - talvez de modo um pouco ácido - uma atitude que me fez pensar muito: as festas no dia do nascimento, ainda na maternidade:
 
 
Foto retirada do site da iG
 
 
Estava eu passeando por alguns sites de maternidade que acompanho sempre quando vi, bem no cantinho, um anúncio para festas na maternidade. Fantástico! Agora em complementação ao CineParto, surgiram as animadíssimas festas no quarto do recém-nascido!! Olha que legal:
 
 
 
 
 
 
Como diz na terceira matéria, é a nova tendência do mercado. Uau! Claro, mercado cujo público alvo são somente as gestantes que optaram por cesarea eletiva com certa antecedência. Já comentei aqui qual a minha opinião sobre as cesareas eletivas, mas, resumindo, eu entendo quem opta por essa opção, mas acho cruel com o bebê.
 
O mercado voltado para gestantes e mães recentes já é bem cruel. Mais triste ainda é perceber que está surgindo no Brasil (e também em outros países) um sólido mercado baseado unicamente no suposto "conforto" que a cesarea eletiva traz para a mulher (sim, para a mulher, e não para o bebê). Apenas na matéria da Uol é que lembrar de citar que ainda existe o parto normal minha gente!!! Pasmem, há esta pequena citação lá:
 
 
"As encomendas devem ser feitas com um prazo de, no mínimo, 30 dias. No caso de cesariana marcada, é só agendar com a mãe a data e preparar o quarto. Quando é parto normal, sugiro que a mamãe escolha produtos mais duráveis, como chocolates, balas e confeitos, pois podem ser produzidos e aguardar a chegada do bebê".
 
 
Bem, pelo menos lembraram que algumas mulheres das cavernas ainda optam pelo parto normal. Mas convenhamos, preparar uma festa e ficar um ou dois meses (ou mais!) esperando o bebê nascer... aí não dá... vamos agendar logo essa cesarea pra podermos comemorar né?? Se não os docinhos estragam...
 
É triste... colocamos o parto na esteira de uma linha de produção (cesareas todas iguais) e para compensar "personalizamos" as festas no primeiro dia após o nascimento, para podermos sentir que somos todos diferentes.
 
Mas ainda bem que na matéria do iG, cujo título é "Decoração personalizada, serviço de buffet e até garçons: vale tudo para celebrar a criança desde suas primeiras horas de vida – mas com bom senso e consentimento do hospital", também fizeram o favor de lembrar os leitores que na "festa" devem entrar 5 participantes por vez (será que o garçom entra nesta conta?), para evitar risco à saúde do recém-nascido. Ufa!
 
Aliás, o bom senso citado no título desta matéria não é muito o que se vê por aí... afinal, hospitais já chegaram a vetar pedidos "extravagantes" como instalação de chopeira no quarto. (wtf????) Ah, mas um chapanhezinho pra celebrar pode tá??
 
Outras recomendações pertinentes para a celebração que achei ótimas são:
 
 
"O momento é mesmo propício a comemorações, desde que respeitados certos cuidados. É preciso ter em mente que o parto é um procedimento cirúrgico e, sendo assim, requer atenção especial, sob o risco de prejudicar o pleno restabelecimento de mãe e bebê."
 
“Acima de tudo, é um hospital. A pessoa no quarto ao lado pode estar em repouso ou não estar no mesmo clima de comemoração, por ter sofrido um abortamento, por exemplo. Não tem problema fazer uma festinha, desde que respeite o espaço do outro” (recomendação do Diretor da Maternidade Perinatal Barra, no Rio de Janeiro)
 
 
Opa, pérai!!!! Parto é um procedimento cirúrgico??? Ah, é! Esqueci que as festas são só para as que optam por cesarea eletiva. O resto das recomendações não vou nem comentar...
 
 
E ainda, minha gente, por fim, como organizar um parto com uma festa linda sem a mamãe pensar no seu visual não mesmo??
 
 
"Como é praxe nessas ocasiões, a dona da festa quer sempre se exibir impecável na hora de receber os convidados. É um desafio estético, especialmente quando se trata de mulheres recém-saídas da sala de cirurgia, e mais uma incumbência para Fulana, que se dispõe a levar também maquiador e cabeleireiro."
 
 
Pois é. Viva o consumismo. Viva a ostentação. Vamos mostrar aos nossos bebês que o importante mesmo no primeiro dia de vida é gastar bastante dinheiro para recebê-los "bem" nesse mundo. Vamos provar às nossas famílias que temos dinheiro suficiente para "cuidar" bem dos nossos filhos. Vamos mostrar que o que interessa é mãe maquiada e de cabelo feito desde as primeiras horas do pós-parto.
 
Afinal, resguardo, tranquilidade, introspecção, cumplicidade com o bebê, início da amamentação e todo o (grande) mais que vem com a chegada de um bebê... que importa não é mesmo?
 
Bom mesmo é ter uma grande festa no dia do nascimento!!!


Só pra lembrar :)
(desculpem a resolução. Fonte: Movimento Infância livre de consumismo)


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