quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O nascimento como transição do espírito - Sobre meu ativismo a favor do parto natural/humanizado


Durante a gestação da Lina, li e estudei tanto sobre assuntos relacionados a parto e maternidade, que depois de um tempo me vi seguidora de diversos blogs e sites, e ainda mais, me vi compartilhando em redes socias e conversando com amigos sobre esses assuntos.

A princípio achei que fosse uma consequência natural frente à tantas descobertas estarrecedoras, e que logo passaria. Mas não passou.


Quase um ano depois do nascimento da Lina, minhas leituras se direcionaram principalmente à assuntos relacionados à educação da minha pequena, mas sempre me pego ainda lendo os blogs sobre parto e maternidade e sigo compartilhando tudo sobre parto humanizado na minha página pessoal do Facebook.

 
Percebi mesmo que eu era uma ativista do parto humanizado, e de tudo o mais que se refere à maternidade consciente, quando há alguns dias atrás eu fiquei sabendo, pelo Facebook mesmo, que diversos colegas meus se tornaram pais. Eu os via comemorando o nascimento, a saúde do bebê e da mamãe, e, deslumbrada olhando a foto dos pequeninos, só conseguia pensar: “mas foi parto normal ou cesárea eletiva?”

 Fiz uma retrospectiva em minha mente e notei que raramente as pessoas, quando publicam o nascimento dos seus bebês, comentam qual foi a via de nascimento. E me peguei pensando: “será que sou a paranoica do parto normal?”.

 
Refleti por muitos dias. Porque eu olhava pra fotos dos bebezinhos e só conseguia pensar na forma como eles tinham nascido? Porque eu achava essa informação tão importante? Será que só eu achava isso importante?

 
Enfim, não sei as outras pessoas, mas eu acho extremamente importante a forma como somos recebidos neste mundo. Leio muito sobre espiritismo e acredito em reencarnação, o que faz com que eu me preocupe com o ritual de chegada de nossas almas a este mundo terreno. Eu olhava os bebezinhos recém-nascidos e imaginava suas almas chegando à Terra. Será que eles receberam os hormônios do parto (ocitocina – o hormônio do amor)? Será que eles foram massageados pelas contrações da mamãe? Será que eles acordaram para este grande momento e sabiam que iriam nascer ou simplesmente foram arrancados de seu sono aconchegante no útero materno? E pior, será que eles estavam prontos e maduros para nascer?

 
Eu acho tudo isso muito importante. Considero o nascimento, assim como a morte, uma transição importantíssima de mundo espiritual ao mundo terreno e vice-versa. Porque ficamos tão chocados ao saber de uma morte traumática, mas não nos colocamos no lugar dos bebês para saber se eles tiveram um nascimento traumático?

Bem diziam os Doutores Maximilian e Ric Jones:  “os eventos do nascer e morrer são pontas que se tocam“. "A mesma lógica de carinho, afeto e amor que ele demonstra por aquele que se vai, nós precisamos oferecer àqueles que chegam, assim como para as mulheres que carregam a tarefa de trazer os viajantes cósmicos para a morada terrena."

 
Nessa mesma semana de reflexão, li em uma rede social um comentário de uma mãe que fiquei chocada. Era mais uma daquelas discussões sem-fim, cheias de mimimi, sobre parto normal x cesárea. A tal mãe dizia, com toda convicção, que “garantia que sua filha, nascida de cesárea eletiva, não tinha sofrido nadinha durante o parto”.

 
Pára tudo!!! Como assim? Ela se colocou no lugar do bebê? A bebê dela contou pra ela que o parto foi legal? Será que ela sabe algo sobre o benefício dos hormônios, das contrações? Será que ela sabe o benefício de se não intervir no parto – um processo natural? Não, ela não sabe.

 
Pois é. Tenho pena desta bebê pela recepção dela na Terra. E é com essa preocupação que eu olho todos os outros bebês que vejo nascendo por aí.

 
Não duvido que esta mulher de quem falei acima será uma excelente mãe, que cuidará muito bem da sua filha com muito amor para o resto da vida. Não é disto que estou falando. Estou falando da nossa recepção na Terra. Da transição. De acompanharmos o nosso nascimento acordados, sabendo que algo vai acontecer. Estou falando de nosso primeiro suspiro, nosso primeiro olhar, nosso primeiro toque na pele. Isso não é especial? Isso não deveria ser mais humano? Eu acho que todo nascimento é especial.

 
E apenas para esclarecer, sou totalmente a favor de cesarianas, desde que bem indicadas. Desde que o risco de vida da mãe-bebê seja maior do que o risco de se fazer uma cesárea.
 

E mais, entendo perfeitamente todas as mulheres que escolhem fazer uma cesárea por terem medo do parto normal. Sei muito bem que o parto normal “tradicional” é horroroso. É um desrespeito. É traumático. É triste saber que a tecnocracia hospitalar chegou á esse ponto, de assustar as futuras mamães, transformando algo tão belo em uma cena de terror. Mas pra deixar claro, o que defendo é o parto natural, humanizado, respeitoso – muito raro por aí, mas ganhando força nos dias de hoje.

 
E não, não acho que nós temos o direito de intervir nas vontades de Deus e da natureza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário