sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Andar, Falar, Pensar - O Andar


Uma das primeiras coisas que aprendi em relação à pedagogia Waldorf foi esse trinômio andar-falar-pensar. Foi a pediatra da Lina, em uma de suas primeiras consultas, que indicou diversos livros sobre antroposofia e Waldorf, e um deles era este aqui, do Rudolf Steiner.

Ainda não li o livro, mas sei que segundo a antroposofia, são essas habilidades que o ser humano adquire nos três primeiros anos de vida, o que torna esse período tão importante e especial no desenvolvimento da criança.

Resolvi falar sobre este assunto pois a Lina, minha filha de 11 meses, já está começando a tomar coragem para dar seus primeiros passinhos e tenho observado admirada o seu desenvolvimento.

O andar da criança se relaciona com a descoberta do meio ambiente que a cerca, e trata-se de um processo que é desenvolvido durante todo o primeiro ano do bebê, a fim de que no fim do processo ele por fim entenda é um “peça” pertencente à esse mundão de Deus, e que, agora, ela pode explorá-lo sozinha, tendo liberdade de movimentação.

É possível observar que todo desenvolvimento da criança parte da cabeça em direção aos pés, e no que se refere ao movimento, percebemos que os bebês iniciam seu desenvolvimento motor dessa maneira: primeiro adquirindo firmeza e controle da cabeça, seguido pela descoberta das mãos, aprendendo a sentar, ficando em pé com apoio, engatinhar e depois dando alguns passos com apoio, sendo que, por fim, adquirem o equilíbrio total e aprendem a andar.

Claro que não existe o que é melhor nem pior, sendo que esta ordem acima em alguns casos é invertida ou até inexistente. Existem crianças que andam direto, sem engatinhar, e outras que aprendem a andar aos 10 meses e outras com um ano e meio. Sem neuras, cada bebê se desenvolve da sua maneira, cabendo a nós apenas observar e proteger, sem limitar ou forçar seu desenvolvimento.

Pretendo ler mais sobre o assunto, assim que eu adquirir o livro indicado pela pediatra da minha filha, e voltar aqui para escrever mais sobre o assunto. Mas a princípio, o que a antroposofia nos orienta é a não forçar, por quaisquer métodos que seja, já que o ser humano já nasce com suas forças interiores que orientará a criança natural e instintivamente a aprender a se erguer, adquirir equilíbrio e finalmente andar.

E mesmo antes de saber dessas coisas, que estudei recentemente, confesso que eu segui meus instintos, e, como faço com tudo relacionado à Lina, deixei-a solta e livre para aprender a se movimentar. Sou totalmente contra andadores ou qualquer tipo de “aparelhos” para “auxiliar” o processo de aprender a andar. Acho que tudo atrapalha, ao invés de ajudar.

Andador, nem preciso falar não é? Foi proibido recentemente, inclusive, mas acho que mais por questões de segurança do que de ergonomia mesmo. Mas já pensou que a criança tem que aprender a andar no andador, onde o equilíbrio e a posição é de uma maneira, e depois tem que aprender a andar de novo, sem ajuda de equipamentos? Mas é incrível como ainda encontramos aparatos curiosos para fazermos nossos filhos aprenderem a andar mais rápido ou para ajudar a apoiá-los:

 
Equipamento para ajudar o bebê a andar
Mais um Equipamento para ajudar o bebê a andar - pior ainda


Para os pais mais afobados, tendo a dizer: bebês nessa idade já adoram imitar tudo o que fazemos (e assim continuar por alguns anos) então não se preocupem que de tanto ver os adultos andarem, as crianças naturalmente já têm uma força de vontade enorme de andar como nós!
Acho que a natureza é perfeita e sábia demais para termos essa necessidade de usar equipamentos que tentam ajudar ou acelerar processos naturais e instintivos.

O que eu faço é apenas segurar na mãozinha da minha filha, e tento deixa-la apoiada em lugares firmes, como sofá e cama, com suas próprias mãozinhas, sempre que possível. Assim, imagino eu que esteja oferecendo proteção e ao mesmo tempo deixando-a livre para ganhar confiança, conhecer as capacidades e limitações de seu próprio corpo e também para explorar e aprimorar sua coordenação motora.

Que a Lina dê seus primeiros passinhos a seu tempo!

 

“Quando começamos, como educadores, a introduzir coação, por mínima que seja, naquilo que a natureza humana individual quer, quando não compreendemos ser necessário deixá-la livre e sermos apenas os guias auxiliares, prejudicamos então a organização humana para toda a vida terrena.”

Rudolf Steiner

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O nascimento como transição do espírito - Sobre meu ativismo a favor do parto natural/humanizado


Durante a gestação da Lina, li e estudei tanto sobre assuntos relacionados a parto e maternidade, que depois de um tempo me vi seguidora de diversos blogs e sites, e ainda mais, me vi compartilhando em redes socias e conversando com amigos sobre esses assuntos.

A princípio achei que fosse uma consequência natural frente à tantas descobertas estarrecedoras, e que logo passaria. Mas não passou.


Quase um ano depois do nascimento da Lina, minhas leituras se direcionaram principalmente à assuntos relacionados à educação da minha pequena, mas sempre me pego ainda lendo os blogs sobre parto e maternidade e sigo compartilhando tudo sobre parto humanizado na minha página pessoal do Facebook.

 
Percebi mesmo que eu era uma ativista do parto humanizado, e de tudo o mais que se refere à maternidade consciente, quando há alguns dias atrás eu fiquei sabendo, pelo Facebook mesmo, que diversos colegas meus se tornaram pais. Eu os via comemorando o nascimento, a saúde do bebê e da mamãe, e, deslumbrada olhando a foto dos pequeninos, só conseguia pensar: “mas foi parto normal ou cesárea eletiva?”

 Fiz uma retrospectiva em minha mente e notei que raramente as pessoas, quando publicam o nascimento dos seus bebês, comentam qual foi a via de nascimento. E me peguei pensando: “será que sou a paranoica do parto normal?”.

 
Refleti por muitos dias. Porque eu olhava pra fotos dos bebezinhos e só conseguia pensar na forma como eles tinham nascido? Porque eu achava essa informação tão importante? Será que só eu achava isso importante?

 
Enfim, não sei as outras pessoas, mas eu acho extremamente importante a forma como somos recebidos neste mundo. Leio muito sobre espiritismo e acredito em reencarnação, o que faz com que eu me preocupe com o ritual de chegada de nossas almas a este mundo terreno. Eu olhava os bebezinhos recém-nascidos e imaginava suas almas chegando à Terra. Será que eles receberam os hormônios do parto (ocitocina – o hormônio do amor)? Será que eles foram massageados pelas contrações da mamãe? Será que eles acordaram para este grande momento e sabiam que iriam nascer ou simplesmente foram arrancados de seu sono aconchegante no útero materno? E pior, será que eles estavam prontos e maduros para nascer?

 
Eu acho tudo isso muito importante. Considero o nascimento, assim como a morte, uma transição importantíssima de mundo espiritual ao mundo terreno e vice-versa. Porque ficamos tão chocados ao saber de uma morte traumática, mas não nos colocamos no lugar dos bebês para saber se eles tiveram um nascimento traumático?

Bem diziam os Doutores Maximilian e Ric Jones:  “os eventos do nascer e morrer são pontas que se tocam“. "A mesma lógica de carinho, afeto e amor que ele demonstra por aquele que se vai, nós precisamos oferecer àqueles que chegam, assim como para as mulheres que carregam a tarefa de trazer os viajantes cósmicos para a morada terrena."

 
Nessa mesma semana de reflexão, li em uma rede social um comentário de uma mãe que fiquei chocada. Era mais uma daquelas discussões sem-fim, cheias de mimimi, sobre parto normal x cesárea. A tal mãe dizia, com toda convicção, que “garantia que sua filha, nascida de cesárea eletiva, não tinha sofrido nadinha durante o parto”.

 
Pára tudo!!! Como assim? Ela se colocou no lugar do bebê? A bebê dela contou pra ela que o parto foi legal? Será que ela sabe algo sobre o benefício dos hormônios, das contrações? Será que ela sabe o benefício de se não intervir no parto – um processo natural? Não, ela não sabe.

 
Pois é. Tenho pena desta bebê pela recepção dela na Terra. E é com essa preocupação que eu olho todos os outros bebês que vejo nascendo por aí.

 
Não duvido que esta mulher de quem falei acima será uma excelente mãe, que cuidará muito bem da sua filha com muito amor para o resto da vida. Não é disto que estou falando. Estou falando da nossa recepção na Terra. Da transição. De acompanharmos o nosso nascimento acordados, sabendo que algo vai acontecer. Estou falando de nosso primeiro suspiro, nosso primeiro olhar, nosso primeiro toque na pele. Isso não é especial? Isso não deveria ser mais humano? Eu acho que todo nascimento é especial.

 
E apenas para esclarecer, sou totalmente a favor de cesarianas, desde que bem indicadas. Desde que o risco de vida da mãe-bebê seja maior do que o risco de se fazer uma cesárea.
 

E mais, entendo perfeitamente todas as mulheres que escolhem fazer uma cesárea por terem medo do parto normal. Sei muito bem que o parto normal “tradicional” é horroroso. É um desrespeito. É traumático. É triste saber que a tecnocracia hospitalar chegou á esse ponto, de assustar as futuras mamães, transformando algo tão belo em uma cena de terror. Mas pra deixar claro, o que defendo é o parto natural, humanizado, respeitoso – muito raro por aí, mas ganhando força nos dias de hoje.

 
E não, não acho que nós temos o direito de intervir nas vontades de Deus e da natureza.